xadrez

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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O TABULEIRO - PARTE I


POR UM XADREZ COMPLETO

O TABULEIRO

PARTE I

            Normalmente, temos o vício de não valorizar muito as partes, os detalhes, as frações que caracterizam as coisas. Somos muito mais atentos com o todo que aos fragmentos que o perfazem. Dessa forma, na maioria das vezes, deixamos de lado muitas informações importantes, que acabam por fazer falta na melhor compreensão e utilização do objeto de interesse. Esse é um problema que vem se acentuando exponencialmente, ainda mais com a informatização e a evolução tecnológica que está fazendo com que tudo fique cada vez mais fugaz e instantâneo.

 É exatamente isso que acontece muitas vezes com o xadrez. Subestimamos algumas partes e supervalorizamos outras, por falta de uma visão mais apurada e profunda de cada componente que o constitui. Essa visão deturpada e limitada do jogo, faz com que este seja mal aproveitado e, como já dissemos em outras postagens, seja subutilizado, valorizando muito mais um segmento em prejuízo dos outros, quando tudo que o compõem tem o mesmo grau de importância, caso contrário o xadrez não existiria. É o que observamos hoje, já que o xadrez acabou por se tornar uma ferramenta unicamente empregada em sua versão competitiva, de alto rendimento, deixando para trás suas características pedagógicas e terapêuticas tão primordiais e necessária no aperfeiçoamento de seus praticantes.

            Para não cairmos nessa armadilha, procurarei nessa e nas próximas postagens fazer uma análise mais aprofundada de cada componente que perfaz o jogo de xadrez. Uma abordagem mais holística, procurando respeitar as diversas culturas por onde o xadrez passou durante sua longa história e que de alguma forma contribuiu na construção do jogo como o conhecemos hoje, algo, infelizmente, muitas vezes relegado a segundo plano por falta de conhecimento, interesse ou por algum tipo de preconceito.

            Dessa maneira, daremos início à nossa abordagem.

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            O tabuleiro do xadrez é um quadrado subdividido em 64 quadrados menores (casas) alternando as cores claras e escuras, sendo 32 casas claras e 32 casas escuras. É um quadrado formado por 8 colunas por 8 fileiras.

            Mas, porque o tabuleiro foi elaborado dentro destas características? Será que isso foi pensado conscientemente, ou foi por mero acaso que ele foi projetado assim?

Acredito que essas perguntas são fundamentais para podermos compreender melhor a importância da concepção do tabuleiro, dentro do jogo de xadrez.

O QUADRADO

            Quadrado é uma palavra originada do latim (QUADRARE, QUADRATUS), que significava “aquilo que foi cortado seguindo ângulos retos”, originário de QUATTUOR, o número quatro (4).

            Por ser rico em arestas, para o conhecimento antigo, tal característica estava associado ao domínio da racionalidade, da impessoalidade e da neutralidade Por ser completamente simétrico e proporcional, não existia nenhum tipo de diferenciação, acabando com qualquer tipo de tendencialidade, por isso nos causando uma sensação de impessoalidade e neutralidade, qualidades fundamentais para que o xadrez fosse desenrolado num plano sólido, sem parcialidades ou qualquer tipo de vantagem.

            Sua forma sempre foi utilizada como geometria preferida quando se desejava trabalhar a ideia de um plano objetivo, graças à sua tridimensionalidade, espelhando exatamente a mesma dimensão que vivemos.

Sua solidez acabava agregando aos homens significados como firmeza, organização, solidez, estrutura, ordem e estabilidade. Elementos que se buscava trabalhar no jogo de xadrez.

            Como já salientamos em outras postagens, o tabuleiro representa a ideia de espaço, pois é nessa área que acontece a partida de xadrez. Seu formato quadrado era como as civilizações antigas simbolizavam a imagem do espaço, tanto na representação de um plano completo, como na representação do corpo dos seres vivos, do planeta, etc. Isso, porque como ressaltamos acima, o quadrado simbolizava o limite do mundo físico, daquilo que se encerra em si mesmo, de maneira inerte e derradeira.

            Para Platão, filósofo grego, o quadrado estava relacionado com a materialização das ideias, ou seja, era no quadrado que o mundo das ideias se concretizava, exatamente como ocorre no xadrez, já que é no tabuleiro o espaço onde todas as estratégicas serão concretizadas, materializadas, onde as ideias serão materializadas. Daí ele representar o corpo do homem como um quadrado, pois era nele que alma concretizava suas ideias.

            Outro fator importante, para o conhecimento antigo, e que também foi responsável pela escolha do quadrado como forma geométrica do tabuleiro, é que para eles cada um dos lados do quadrado representava um dos elementos da natureza, no caso, terra, água, fogo e ar. Se formos verificar a história do xadrez, uma das primeiras formas que o jogo foi praticado, o Chaturanga (jogo dos 4 elementos), era com quatro bandos de peças, onde cada um ocupava um lado do tabuleiro e representava um dos elementos. Se voltarmos à representação platônica, o corpo do homem era um quadrado subdividido em quatro veículos, cada um representando um elemento constituinte do corpo humano: corpo físico, anímico, emocional e mental.

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            Para as civilizações antigas, os quatro elementos simbolizavam entre outras coisas, os quatro pilares da sabedoria humana, ou seja, ciência, religião, filosofia e arte. Daí o xadrez ter essa dimensão de ser um jogo que nos eleva ao mundo da sabedoria, que nos faz ficar mais inteligentes, uma ginástica mental, pois também traz esses quatro elementos no seu tabuleiro.

            Era considerado um jogo sagrado, o “jogo dos reis”, e como os reis eram os grandes líderes religiosos de seu povo, o xadrez carrega em seu cerne essa ligação com o sagrado. Um exemplo disto era que seus templos antigos eram construídos em um formato quadrilátero. Um exemplo famoso são as pirâmides que são construídas sobre uma base quadrada, sobre um “tabuleiro”.
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      Outro fator ligado ao sagrado, está na imagem da cruz, símbolo fundamental de muitas religiões, e que quando se divide o tabuleiro em quatro quadrados, se faz uma cruz que define com exatidão o centro exato do quadrado.

            Oito linhas partindo do centro do quadrado, formam os eixos que indicam as quatro direções cardeais e os quatro cantos do mundo, a divisão óctupla do espaço. Essa divisão na tradição europeia era um emblema da divisão do dia e do ano. Assim, o tabuleiro representa toda a duração de uma partida, e assim por diante...

            Logo, o tabuleiro de xadrez esconde significados que vão muito além de sua aparência, demonstrando que aqueles que criaram o jogo, tinham como objetivo trabalhar elementos muito mais profundos para nos ajudar a elevar nosso nível de conhecimento. Poderia ficar explanando muito mais acerca da forma geométrica do tabuleiro, mas o que acho essencial é observar que esse quadrado busca refletir o nosso quadrado e os diversos elementos que constituem nosso quadrado existencial, seja internamente, seja externamente. E que ao aprender a tirar o máximo que o tabuleiro pode proporcionar para meu jogo, também me ajudará a aprender a utilizar o máximo da potencialidade no tabuleiro da vida. Já que o tabuleiro simbolizava para os antigos uma representação do mundo concreto, tecido de sombra e luz, onde se alternavam e equilibravam as forças contrárias. Para eles o tabuleiro representava o plano existencial tanto do homem como da terra, ou seja, o lugar onde tudo nascia crescia, morria e renascia. Enfim, o tabuleiro é o grande palco, onde tudo acontece e onde podemos aprender sempre.

            Nas próximas postagens continuarei explanando acerca dos componentes que formam o tabuleiro de xadrez.

 

Até a próxima!!!

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