xadrez

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O XADREZ CONCEITUAL


O XADREZ CONCEITUAL
            Um dos maiores problemas para se evoluir no xadrez é a necessidade de se memorizar gigantescas variantes de aberturas e defesas. Se você buscar se especializar apenas em Ruy Lopez, por exemplo, são centenas de páginas com milhares de variantes e sub-variantes, que se você for tentar memorizar, você ficará perdido e, normalmente, depois de algum tempo esquecerá muitas ou misturará as variantes entre si.
            Outro problema na memorização é que, muitas vezes, o adversário pode jogar lances que não estão naquela variante que você memorizou e aí, você tem que tentar descobrir o lance na hora e todo aquele esforço cai por terra, causando uma sensação de frustração.
            Outro fator contrário à memorização de jogadas, é que isto leva muito tempo e dependendo da idade, não se tem todo esse tempo disponível para poder memorizar os lances estudados.
            O que pretendo apresentar aqui é que é possível trabalhar no xadrez de outra maneira, onde a memória será utilizada, mas não como único meio, mas antes como parte e sem tanta intensidade. Essa alternativa de estudo é o que chamo de trabalhar através da conceituação dos lances, seja lá quais forem eles: abertura, defesa, meio-jogo ou final. Todos esses segmentos podem ser conceituados e, inclusive, foram criados dentro desse parâmetro conceitual.
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            Conceituar significa compreender o plano de determinada combinação de lances. Em outras palavras, significa entender qual a estratégia adotada e proposta para atingir determinado objetivo, seja na abertura, meio-jogo ou final. Sempre há metas a serem atingidas e se sabermos quais são elas, poderemos compreender o porquê de cada lance em determinada combinação e respeitando determinada ordem.
            Para isso vamos utilizar as seguintes variações de tema como exemplo de conceituação:
VARIAÇÕES DE ABERTURAS COM e4:
1-e4; e5; 2-Bc4,Bc5; 3-Dh5.
1-e4, e5; 2-Bc4, Cf6;
1-e4,e5; 2-Cf3,Cc6; 3-Bc4, Cf6; 4-Cg5 (ataque Fegatello).
Essas são variações de um mesmo tema. Inicia com o tema do “Pastorzinho” e se desenvolve até o “Ataque Fegatello”. Temas muito conhecido pela maioria dos praticantes do jogo.
Então, vamos analisar conceitualmente as variações acima.
1-e4 à Começar com o peão da ala do rei ocupando o centro, significa que a estratégia de Brancas é atacar a ala do rei, por isso o avanço deste peão. O peão pressiona as casas brancas de d5 e f5, ou seja, ele quer controlar essas casas brancas por serem importantes para os dois pontos principais de quem joga pela ala do rei: os pontos de f7 e h7. Logo, o primeiro lance já traz consigo todo um conceito estratégico de jogo, projetando toda a partida a frente, como se fosse um DNA de Brancas.
1-...e5 à Também começa com o peão de rei, ocupando o centro, ou seja quer atacar a mesma ala do rei. Logo, ele terá os mesmos objetivos, no caso atacar os pontos de f2 e h2. Por isso, ele quer controlar as casas pretas de d4 e f4. É importante frisar que por enquanto não há nenhum tipo confronto estratégico pois cada um está jogando por seus pontos de ataque e não para se defender. Por isso, esses tipos de aberturas serem chamadas de abertas, pois jogam e deixa o outro jogar.
Primeira variação, do “Pastorzinho”:
2. Bc4 à Como Negras não jogaram contra o plano de Brancas, esta aproveita e continua sua estratégia. Ao jogar esse lance, tentar manter o controle sobre a casa d5 e, simultaneamente, a pressão sobre a diagonal de a2-g8, mirando, principalmente, o ponto de f7. Além disso, ao desenvolver as peças da ala do rei, libera o roque e pode, futuramente, rocar e avançar peão de f, tentando abrir a coluna ou apoiar avanço dos peões na ala do rei. Fiel ao conceito estratégico de seu primeiro lance.
2...Bc5 à Negras joga lance com o mesmo plano de Brancas, atacar ponto de f2, controlando a diagonal de d5, desenvolvendo peças da ala do rei e jogando por seu plano. Ainda aqui houve não nenhum confronto entre as Brancas e as Negras.
3. Dh5 à Brancas se mantém fiel ao seu plano inicial. Ataca peão de e5, sem defesa, querendo fazer com que o adversário acredite que esse é seu único interesse. Mas o que ele objetiva realmente, é atacar o ponto de f7, podendo no próximo lance dar xeque-mate.
Acredito que já ficou claro como se joga o xadrez de forma conceitual. Mais do que lances, o que buscamos entender é o plano estratégico que está por trás de cada lance. Se conseguirmos entender isso, acabaremos por achar os lances, independente da memorização, pois é possível se chegar aos lances pela compreensão dos verdadeiros objetivos que se escondem por trás deles.
Assim, na segunda variação o jogador de Negras, ao compreender qual o verdadeiro objetivo de Brancas ao jogar e4 e Bc4, joga no lance 2-...Cf6, que defende a entrada da Dama. É óbvio, que ao jogar este lance, Negras passa a jogar contra o plano de Brancas e com isso perde a iniciativa de jogar por seu plano, pois luta para não deixar as casas brancas sem defesa.
E, na terceira variação de nosso exemplo, Brancas ao ver que Cf6 atrapalha o plano de ataque na ala do rei, elabora outra forma de explorar a posição:
Ao invés de jogar o 2-Bc4, prefere jogar Cf3, desenvolvendo o cavalo da ala do rei, atacando o peão de e5, sem defesa, dando a impressão de ter aberto mão de seu plano estratégico das casas brancas, já que passa a tentar atrapalhar o plano das Negras pelas casas pretas. Ao mesmo tempo, força Negras a defender seu peão atacado. No caso, Cc6, que defende e tenta manter o controle pelas casas pretas de d4. Parece que Negras estão com iniciativa e se Brancas continuar jogando pelas casas pretas é isso mesmo o estará acontecendo no tabuleiro.
Mas agora Brancas joga 3.Bc4, que volta a jogar pelas casas brancas e pelo ponto de f7.
Negras escolhe desenvolver cavalo em f6, atacando peão de e4, sem defesa. Quer desenvolver as peças da ala do rei, para rocar rápido e defender o ponto de f2. Dessa forma, Negras passam a jogar contra o plano de Brancas, perdendo a iniciativa.
Aqui, Brancas escolhe uma tática diferente de abordar o ataque em f7, que é o lance 4.Cg5, que ataca as casas brancas, mas agora com uma peça de valor inferior à Dama, como vimos na variante do Pastorzinho. E assim por diante.
Pelo xadrez conceitual fica claro a evolução e a criação de novas formas táticas para explorar o plano estratégico escolhido na abertura, que no nosso exemplo, foi a ala do rei, especificamente o ponto de f7.
Se jogarmos dentro dessas premissas conceituais, seremos capazes de dialogar com o adversário, com a posição, usando principalmente a compreensão ao invés de usar somente a memória. Fica muito mais prazeroso jogar; você aprende muito mais e acaba aplicando essa forma de ver conceitual no seu dia-a-dia, já que na vida real, as coisas não são tão diferentes da estratégia do xadrez.
Nas próximas postagens, faremos mais análises utilizando esse método do xadrez conceitual e fazendo apartes conceituais na realidade cotidiana das pessoas.
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Até a próxima!
 

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